Em entrevista à Lusa, a partir do Brasil, onde se encontra de férias, Carlos Queiroz considerou que «Deco deveria ter pedido desculpa aos portugueses por se ter apresentado no estágio» para o Campeonato do Mundo de 2010, «numa forma miserável, não estando à altura das responsabilidades de um Mundial e do jogador que foi.»
Muito bem. Primeiro ponto. Quem convocou o Deco para o Campeonato do Mundo? O Vice-presidente Amândio de Carvalho? O presidente da Federação? O seu agente e agente da quase totalidade dos jogadores da selecção? Ou foi, por curiosidade, o ex-seleccionador nacional?
Sempre brinquei com a realidade de ter aprendido a ler. Sempre me diverti a dizer que tinha até pena de saber ler. Mas a verdade é que aprendi a juntar letras e a torná-las numa realidade harmoniosa a que chamámos de leitura. Foi assim que li estas recentes declarações do antigo seleccionador nacional. Sublinho igualmente que estas declarações não foram escritas apenas em um jornal português, mas sim em vários meios de comunicação internacionais, como um no Brasil de grande expansão.
Sempre brinquei com a realidade de ter aprendido a ler. Sempre me diverti a dizer que tinha até pena de saber ler. Mas a verdade é que aprendi a juntar letras e a torná-las numa realidade harmoniosa a que chamámos de leitura. Foi assim que li estas recentes declarações do antigo seleccionador nacional. Sublinho igualmente que estas declarações não foram escritas apenas em um jornal português, mas sim em vários meios de comunicação internacionais, como um no Brasil de grande expansão.
Não sei como é que os brasileiros olham para esta luta de galos no poleiro nacional, mas pressinto que a imagem do futebol português não saia especialmente reabilitada. Curioso este arrufo protagonizado, por um ex-seleccionador e um ex-jogador da selecção, um deles nascido em Moçambique e o outro no Brasil. Claro que no Portugal dos pequeninos, para quem uma declaração minha soa sempre a inconveniente ou oportunista, serei imediatamente fuzilado com a lenga-lenga de alguns comentadores de pacotilha, com a possível acusação de ser crítico ou anti-ético. É verdade que nunca resolvi à chapada, num aeroporto, as minhas diferenças com alguns desses comentadores, mas se eu saio das verdades politicamente correctas, sou imediatamente criticado, por vezes, com recurso a mentiras e farsas tecnológicas, como a minha página fantasma no twitter.
Mas nos actuais templos da modernidade tecnológica, onde muitos constroem a sua relação com o futebol - eu prefiro os resultados - e que sempre me acusaram de não utilizar, a ética não faz de mim um ignorante. Não faz de mim um inerte tecnológico e um pensador de meia tigela.
Concordo que a ética deve condicionar-me no exercício da crítica, mas nunca me poderá impedir de ser um eterno questionador. E por isso, eu questiono:
- A Federação Portuguesa de Futebol não paga aos seus treinadores das respectivas selecções, para que eles façam observações regulares aos jogadores que pretendem convocar?
- Não é ao seleccionador nacional que compete convocar os jogadores em melhor forma?
- Quem convocou um jogador para o Campeonato do Mundo em estado de forma miserável?
- Quem é que o treinou, durante um mês, num estágio da selecção (na Covilhã), e mesmo concluindo que o jogador estava numa forma miserável, mesmo assim, insistiu em levá-lo a uma competição com a importância de um Mundial.
- Quem é que confiou a titularidade a Deco, mesmo apercebendo-se da forma miserável do jogador, no primeiro jogo do percurso envergonhado da selecção no Mundial da África do Sul?
Estas declarações deviam merecer uma ampla reflexão sobre a selecção nacional. Será que foram mesmo convocados os melhores jogadores para o Campeonato do Mundo? Por agora, fico com as minhas desconfianças e as minhas convicções sobre o assunto. E fico com o meu direito de contribuinte para levantar estas questões e, no futuro - se me apetecer -, pedir explicações à Federação. Porque além de treinador, sou contribuinte do meu país, com o número 120203751 e os inexplicáveis prémios que a Federação pagou e se calhar vai continuar a pagar, também é com o meu dinheiro.
É por estas e por outras que o meu sonho de chegar à selecção nacional não acabou nem acabará. Porque um dia gostava de acabar com todas estas brincadeiras e com estas farsas. A selecção é dos portugueses, não é dos seus dirigentes, dos seus treinadores, dos empresários dos jogadores ou dos patrocinadores. A selecção é de todos nós. Especialmente os que pagam impostos para que outros andem a brincar com o nosso dinheiro.
Aos dois protagonistas desta triste e rocambolesca história, deixo um pequeno conselho : peçam ambos desculpa, pelo tempo que nos fazem perder e pela vergonha que trazem ao futebol português.
Em relação ao professor Carlos Queiroz, que me acusou numa entrevista de dançar em cima da campa dele, é agora manifestamente claro para mim, que não precisava da minha ajuda para ajudar ao seu enterro como seleccionador nacional. O senhor, sozinho, tratou disso.
Um abraço
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