segunda-feira, 1 de agosto de 2011

PORTUGAL DEITA EXPERIENCIA FORA




"Portugal deita fora a experiência"
Será o futebol português tão avançado que se possa dar ao luxo de desperdiçar a experiência e o prestígio de alguns dos seus melhores treinadores? Que modernismo actual é que alastra no futebol português que separa os nossos melhores clubes dos nossos melhores e mais experientes treinadores? O jornal A BOLA publicou um estudo que demonstra que a liga portuguesa, entre as principais ligas europeias, é a que tem a média mais baixa de idades, para ser mais preciso 41,9 anos, espantosamente quase dez anos de diferença para a poderosa liga inglesa, que tem, entre os seus treinadores na Premier League, a média de 51 anos de idade.
Em Portugal, os únicos técnicos acima dos cinquenta anos a treinar na Liga Zon Sagres são Manuel Machado, no Vitória de Guimarães e Jorge Jesus, no Benfica. De resto, depois de um fenómeno, há alguns anos, que levou os dirigentes a procurarem o novo Mourinho em cada jovem treinador que despontasse, agora, aparentemente, o que se confunde é idade com motivação.
Nesse estudo do jornal A BOLA, um dos treinadores consultados pelo diário desportivo foi Manuel Cajuda, um treinador reputado, de prestígio e a poucos jogos de se tornar o treinador português com maior número de jogos na Primeira Liga. Isto já não tem valor? Claro que tem e apenas a distracção dos clubes e a crise financeira que afecta o futebol português é que levam a que um treinador como Manuel Cajuda possa estar no descanso. É verdade, que nos últimos dois anos, não faltaram hipóteses do treinador algarvio regressar a Portugal. Poucos meses depois de ter saído para os Emirados Árabes Unidos, foi formalmente convidado pelo Vitória de Setúbal, após a saída de Carlos Azenha. Recusou por motivos financeiros e também porque estava comprometido, há pouco tempo, com o Al Sharjah.
No final desse ano, o Sporting destituiu Paulo Bento e durante vários dias, nos jornais desportivos, Manuel Cajuda foi apontado como futuro treinador do Sporting. Uma vez mais, razões financeiras, além de outras, impediram que o treinador português regressasse mais cedo a Portugal. E até ao final da época, de cada vez que um clube da Liga Zon Sagres estava em dificuldades, o telefone de Manuel Cajuda não parava de tocar. Até o regresso a Guimarães, em pleno acto eleitoral do clube, chegou a ser congeminado, por uma das listas candidatas à presidência do Vitória.
A sucessão de Carlos Queiroz na selecção nacional foi, igualmente, o pretexto para que se noticiasse o interesse da Federação em Manuel Cajuda. Os jornais deram conta dessa possibilidade e ainda recentemente, em declarações à assessoria de comunicação e imagem do treinador, José Cavaco, director da FPF, confirmou que Manuel Cajuda era um dos nomes que estava em cima da mesa. Vários outros clubes, em Portugal, ensairam aproximações, mais ou menos veladas, ao treinador português, mas a verdade é que o contrato com o Al Sharjah e o curriculo de Manuel Cajuda não permitiram estabelecer um acordo. O Vitória de Setúbal voltou à carga, depois de demitir Manuel Fernandes e o telefone do ex-treinador do Al Sharjah voltou a tocar.
Aliás, de acordo com o jornal A BOLA, quando recebe um telefonema de Portugal, Manuel Cajuda sabe que, provavelmente virá acompanhado de um convite para treinar. O problema, descreveu o treinador português ao diário desportivo, é que a conversa é quase sempre a mesma: "Todos os clubes que me convidaram para regressar, e não foi só um, começaram logo a conversa a dizer que isto está muito mau". "Isto", para os clubes é a periclitante situação financeira dos clubes. "Há pouco tempo, um senhor presidente disse que pensou em mim, mas que pensou que euu queria muito dinheiro. Não deve ter pensado se eu era competente, se valia a pena ou não, pensou só que eu queria muito dinheiro e arranjou mais barato. A competência, a experiência, a inovação e a ambição, tudo junto, custa dinheiro", esclareceu Manuel Cajuda.
Analisando para o jornal A BOLA, as razões para a diferença média de idades entre os treinadores em Portugal e nos principais campeonatos europeus, Manuel Cajuda olha para as contas que são feitas: "Há uns tempos começou a estragar-se o mercado nacional, com treinadores mais jovens a oferecerem-se por valores mais baixos. Os treinadores em Portugal que digam, nesta altura, se ganham bem...Aqui há dias chamaram-me para dar uma palestra num curso de treinadores, pediram-me testemunho sobre a experiência que tenho, e eu recusei. E recusei porque em Portugal a experiência é deitada fora", concluiu Manuel Cajuda.
Apostando que entre a ambição de Villas Boas e a experiência de Pinto da Costa, os portistas escolheriam sempre o presidente, Manuel Cajuda acentua o cepticismo: "Não me venham com orgulhos de termos os treinadores mais jovens. Nos campeonatos de sonho, que são os de Inglaterra, Espanha e Itália, por exemplo, os treinadores andam pelos 50 anos e não me parece que sejam campeonatos piores", terminou.

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