segunda-feira, 4 de outubro de 2010

RESPOSTA A CARLOS QUEIROZ

Já passaram três semanas sobre a publicação de uma entrevista de Carlos Queiroz ao jornal Expresso. Nessa entrevista, o actual seleccionador nacional - de notar que escrevo o actual e não o ainda - esclarece os leitores do jornal que eu próprio - e o Manuel José - teriamos andado a dançar sobre a sua campa.

Durante estas três semanas, resisti à tentação de lhe responder, porque a selecção nacional iria começar a sua fase de qualificação para o Euro-2012 e, como português, creio que os interesses nacionais sobrepõem-se, sempre, aos interesses individuais.

O seleccionador nacional reagiu, assim, injustificadamente, à divulgação de uma entrevista que dei à agência Lusa e que foi abusivamente descontextualizada por alguns jornais, especialmente o jornal A BOLA.

Agora sim, que Portugal jogou e eu não posso ser acusado de ser desestabilizador, cá vai a minha resposta ao seleccionador nacional:

Em primeiro lugar, gostaria de dizer ao seleccionador nacional que não retiro nada do que disse. Mas gostaria que ele tivesse dado o benefício da dúvida, o mesmo que ele se acha portador, ao dizer que a alegada campanha para o destituir se baseia em dados deturpados pela comunicação social. Porque, na minha entrevista, eu não ataquei o professor Carlos Queiroz. Eu sei o que digo e mantenho o que disse. Mas apenas o que disse e não o que inconvenientemente foi aproveitado por alguma comunicação social, à qual, no dia seguinte enviei uma nota, corrigindo a descontextualização das minhas declarações. Se o senhor seleccionador nacional não viu, é porque estava distraído. Tenho a gravação da entrevista em meu poder e reafirmo que não ataquei o professor Carlos Queiroz. E muito menos relacionei o seleccionador nacional com a frase "não basta ser um bom professor para ser um bom treinador".

Repito que tenho a gravação da entrevista comigo e em qualquer momento posso provar que não relacionei uma coisa à outra. Mantenho o que disse sobre a liderança colectiva e as falhas que, aparentemente, essa liderança apresentou. Repito o que disse sobre a nossa participação no Mundial, porque o senhor seleccionador parece esquecer-se de um direito que me assiste, que é o direito à minha opinião. Portugal falhou no Mundial, nos objectivos e na qualidade de jogo, como tinha falhado substancialmente na fase de qualificação. Mesmo assim, o senhor seleccionador decidiu atacar-me. Estranho que o tenha feito e que apenas se tenha lembrado de mim e de Manuel José, quando outros treinadores, como o grande José Mourinho, disse, por outras palavras, o mesmo que eu disse. E sobre ter dançado sobre a sua campa, estranho a sua declaração, porque não vejo nenhum morto. Pelo menos, nunca vi um morto dar tantas entrevistas aos meios de comunicação social. Portanto, é difícil para mim, entender que sem haver um morto, possa haver uma campa. Além do mais, jamais dançaria sobre a campa de um morto, porque sou católico, sou cristão e é esse cristianismo que vive em mim que evitaria, por exemplo, que eu pudesse andar à chapada nos aeroportos.

Isso nunca farei, até porque reconheço que ao actual seleccionador nacional tudo é permitido, ao passo que a outros treinadores portugueses, mesmo que tenham curriculo e resultados de que se orgulhem, não será permitida tamanha liberdade de expressar as suas frustrações. A terminar, gostaria de desejar ao seleccionador nacional as maiores felicidades pessoais e profissionais e esperar que a próxima campanha de Portugal, na fase de qualificação para o Euro-2012, venha a ser menos frustrante para os adeptos portugueses do que foi a participação de Portugal no Campeonato do Mundo e anteriormente na sua fase de qualificação, e reforçar o direito que tenho a sonhar com o facto de, um dia, vir a ser seleccionador nacional. Já tinha esse sonho antes de Carlos Queiroz e vou mantê-lo, depois de Carlos Queiroz.

Concluindo, afirmo que tenho a maior estima profissional pelo professor Carlos Queiroz e que gostaria que essa estima fosse recíproca. Percebo que se sinta atacado na sua dignidade, porém, isso não lhe dá o direito de atacar a dignidade dos outros. Repito, mais uma vez, para que não fiquem dúvidas: Tenho, comigo, a cópia-aúdio da entrevista que dei à agência Lusa e por isso posso reforçar que sei o que digo. Só não aceito é que seja atacado por algo que não disse.

Manuel Cajuda

1 comentário:

  1. "Há duas coisas a que temos de nos habituar, sob pena de acharmos a vida insuportável: são as injúrias do tempo e as injustiças dos homens." (Chamfort)

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