sábado, 2 de outubro de 2010

Manuel Cajuda, um mentalista do futebol, um dos maiores motivadores que conheci até hoje e um construtor de resultados


    Durante três meses e meio, como director de comunicação do Vitória de Guimarães, tive a felicidade de conviver com o treinador Manuel Cajuda e conhecer, por dentro, a mecânica pessoal e colectiva de uma equipa profissional de futebol. Tinha curiosidade em saber como funciona um balneário, mas o que mais me atraia, nesse desafio profissional, era confrontar as minhas ideias com a realidade adquirida. Além do mais, a liderança - nas empresas, nos clubes, na vida - é um assunto que me interessa. E tinha a expectativa de confirmar, por dentro, o que faz um treinador desalinhado, politicamente incorrecto e, por vezes, mediaticamente incompreendido, ter tanto sucesso no futebol, na liderança e nos resultados.

    Quando cheguei a Guimarães e ao clube apercebi-me da grandeza pessoal de Manuel Cajuda mas, principalmente, da incrível empatia com os adeptos. O Vitória de Guimarães acabara de conseguir um inédito apuramento para a terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões, um ano depois de ter assegurado uma subida de divisão que restabeleceu a confiança e o orgulho dos adeptos no clube. Nas ruas, nos cafés, no estádio, em cada contacto de Manuel Cajuda com os adeptos, percebi que a popularidade do treinador já escapara ao escrutínio normal dos resultados. Os adeptos gostam de Manuel Cajuda não apenas porque é um dos melhores treinadores portugueses, mas porque se sentem integrados por Manuel Cajuda em cada um dos seus projectos futebolísticos. As equipas de Manuel Cajuda são também as equipas dos adeptos. Nesse convívio, raramente assisti a uma discussão onde prevalecesse uma crítica a Manuel Cajuda ou às suas opções. O modo afectuoso e respeitador como o treinador trabalha a sua relação com os adeptos, envolve-os num compromisso invisível e duradoiro, que os leva a assumir as opções de Manuel Cajuda como se fossem as suas. E, por isso, as decisões de Manuel Cajuda quase nunca se discutiam. Isto é liderança. Inquestionável, indiscutível e eficiente.

    O mesmo se passa com os jogadores. Assisti às palestras de Manuel Cajuda. Qualquer gestor de empresas não desdenharia ter a capacidade de aglutinar os colaboradores da sua empresa do mesmo modo que Manuel Cajuda conseguia convencer os seus jogadores a jogar nos limites da resistência física e do fulgor mental. Jamais esquecerei algumas das palestras de Manuel Cajuda e a forma como ele conseguia influenciar mentalmente os jogadores. Numa delas, antes do jogo com o Basileia, na Suiça, na pré-eliminatória da Liga dos Campeões, quando saí da sala, comentei com um dos meus colaboradores no clube: «Depois de uma palestra destas, até eu acredito que podia jogar logo à noite». 

    Esta é a força de Manuel Cajuda. A força de fazer os outros acreditar que nada é impossível. E, naquela noite, para aqueles jogadores, nada pareceu impossível. A não ser uma escandalosa arbitragem que retirou ao Vitória de Guimarães a possibilidade histórica de participar na liga dos Campeões e a Manuel Cajuda o prémio de treinar na maior e melhor competição de clubes em todo o Mundo. Poucos treinadores em Portugal atingiram, até hoje, igual merecimento, de estar na Liga dos Campeões. E com o especial mérito de o conseguir, sem treinar um dos designados "Três Grandes" do futebol português.

    Manuel Cajuda é um treinador mentalista e poucos conseguem dizer ou fazer o mesmo. O segredo é encaminhar os outros para níveis de excelência nas funções que cada um exerce, numa equipa de futebol. Todos trabalham bem, existe harmonia e descobri em Manuel Cajuda um líder que valoriza o contributo dos outros e que aceita uma responsabilidade partilhada. Mas, nunca larga o "driver seat", porque a condução do processo nunca lhe escapa. E tem, de facto, uma forma original de liderar, que é imediatamente aceite pelos outros e de comunicar essa liderança. 

    Uma liderança que motiva, que alegra, que respeita e que domina. E o mais curioso do domínio mental que exerce sobre os outros, é que os jogadores nunca se sentem dominados, sentem-se orientados, defendidos e protegidos. Também não esqueço o que me disse, um dia, o Nilson, um guarda-redes de enorme categoria e um dos capitães da equipa: «Zé, a diferença entre o míster e outros treinadores é que, com o míster até os jogadores que não jogam gostam dele e o respeitam, enquanto que com outros treinadores que conheço, até os jogadores que são titulares não gostam deles».



    Acho que isto explica tudo sobre o treinador Manuel Cajuda, um mentalista do futebol, um dos maiores motivadores que conheci até hoje e um construtor de resultados.
JOSE MARINHO

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