terça-feira, 19 de outubro de 2010

GOSTAVA DE TREINAR EM ITALIA


Cajuda: «Gostava de treinar em Itália»
ENTREVISTA DO TREINADOR AO SITE CALCIOMERCATO

17:24
terça-feira, 19 outubro de 2010



Manuel Cajuda foi convidado pelo site italiano, Calciomercato, a responder a algumas perguntas sobre o atual estado do futebol e profissionalismo nos Emiratos Árabes Unidos. O interesse do jornalista italiano centra-se na carreira de Fábio Cannavaro na liga local e Manuel Cajuda foi o treinador escolhido para informar os leitores do Calciomercato sobre a atualidade do campeonato, das equipas, dos talentos locais. Uma aposta na internacionalização da imagem de treinador credível e competente. Leia na íntegra, toda a entrevista de Manuel Cajuda ao site Calciomercato.
Como é o nível de jogo nos Emiratos Árabes Unidos?
- Está a crescer. Temos de considerar que é um profissionalismo que está a dar os primeiros passos e que por isso ainda cambaleia. Mas há uma coisa muito interessante nos Emiratos Árabes Unidos e que já percebi que é comum à cultura árabe. Eles gostam muito de aprender e fazem-no depressa. Se eles quiserem, com o dinheiro que existe e o interesse pelo futebol, os clubes aqui podem dar um salto qualitativo enorme, no futuro. Ao contrário do que se pensa na Europa, o profissionalismo no mundo árabe não é um brinquedo dos Sheiques, é uma aposta de futuro. Num futebol melhor, de boa qualidade e competitivo.
- Nós temos o Fabio Cannavaro a jogar nos Emiratos: ele é considerado um líder, um herói ou um jogador normal?
- O Fábio Cannavaro não é um jogador, é uma lenda. Que eu me lembre, foi o único defesa em todo o Mundo a ganhar a Bola de Ouro, a ser considerado o melhor jogador do Mundo. Nem o Maldini, nem o Roberto Carlos conseguiram isso. Um grande jogador e um grande campeão. É um exemplo para os jogadores mais jovens e também para os adeptos. Para crescer, o futebol nos Emiratos Árabes Unidos precisa de mais Canavarros, precisa do seu talento e do seu exemplo. E, se é verdade que o Canavarro está em final de carreira, também é verdade que chega aqui numa fase da sua carreira em que não vem à procura de prestigio. Vem para ensinar. E isso é o mais importante, que um jogador como o Canavarro venha para receber, mas também disponível para dar.
- Como é a vida para os jogadores e treinadores nos Emiratos, os que ganham mais dinheiro?
- É uma vida boa, de luxo, mas que não pode ser de extravagância. Até porque temos todos um exemplo para dar aos mais novos, aos adeptos. Vivemos numa cultura especial, menos materialista do que a cultura ocidental e temos de ser sensíveis à realidade que nos rodeia. Não estamos neste país, longe das nossas famílias, para andar a exibir sinais de riqueza. Esse não é o papel de um desportista, seja ele jogador ou treinador. Mas, claro, nos Emiratos Árabes Unidos, a qualidade de vida é absolutamente fantástica.
- Jogadores estrangeiros: como são vistos pelos jogadores locais...jogadores e treinadores aprendem alguma coisa...?
- São vistos como jogadores que podem ajudar a melhorar a qualidade média das equipas. As pessoas, na Europa, têm a tendência para pensar que apenas jogadores em final de carreira é que vêm cá jogar, antes de fechar as suas carreiras. Há de tudo, por aqui. E sobretudo, existe um grande respeito pelo jogador estrangeiro, desde que o jogador estrangeiro saiba respeitar os outros. As pessoas são incríveis, apoiam os jogadores e treinadores, mas esperam que as respeitem a elas. O mesmo se passa com os clubes, ninguém pode pensar que vem para os Emiratos Árabes Unidos para gozar o sol e os petrodólares. Isso acabou. Temos um campeonato profissional e a tendência é para trazer cada vez mais e melhor talento estrangeiro.
- Existe algum jogador no campeonato local, dos Emiratos Árabes Unidos que gostasse de recomendar a clubes italianos?
- Não é fácil para qualquer treinador, aqui nos Emiratos Árabes Unidos, indicar o nome de algum jogador local para jogar no futebol italiano. Como sabem, o profissionalismo aqui está a dar os primeiros passos e há coisas que ainda precisam de ser trabalhadas. Desde logo a mentalidade profissional dos jogadores. O campeonato italiano é dos melhores e dos mais profissionais do Mundo. Acredito que os Emiratos Árabes Unidos têm alguns diamantes que podem ser bem polidos e que, em dois, três anos, podem alcançar uma carreira internacional. Existe talento, mas tem de ser bem trabalhado em ambientes de maior profissionalismo. Se os clubes italianos vierem aos Emiratos à procura de jogadores que resolvam problemas de imediato, não encontram. Se vierem com a expectativa de encontrar talentos que podem aproveitar daqui a dois anos, então é um bom investimento.
- Quais são as possibilidades dos Emiratos Árabes Unidos na Asian Cup?
- Acho, francamente que os Emiratos Árabes Unidos não estão entre os principais candidatos ao título. Esses serão a Coreia do Sul, o Japão, a Arábia Saudita, o Qatar. Porém, é preciso estar atento, porque há muito talento a florescer nos Emiratos. As recentes vitórias da selecção de sub-23 comprovam que é preciso levar a sério o futebol de selecções dos Emiratos.
- O campeonato mundial de clubes vai decorrer em Abu Dhabi...Existe euforia dos adeptos, como é que vê este acontecimento nos Emiratos?
- É um grande acontecimento para os adeptos. Especialmente para os adeptos, que vão ter a oportunidade de chegar mais perto das grandes vedetas do futebol internacional. Já na época passada, foi um sucesso. De bilheteira, um sucesso para a organização, um sucesso para os patrocinadores. É a lógica comercial do jogo que prevalece, num local onde as pessoas e as empresas têm dinheiro para investir. Mas, claro, é um grande acontecimento para os adeptos.
- Gostaria um dia de treinar em Itália? Que clubes é que gostaria de treinar?
- Não seria treinador de futebol se não tivesse o desejo de treinar em Itália. Inglaterra pode ser o berço do futebol, mas Itália é a grande casa da táctica. E quando falo da táctica, não menosprezo o futebol italiano por ter construido essa afinidade com o lado táctico do futebol. Foram os italianos que tornaram a táctica num instrumento para ganhar jogos. Claro que gostaria de treinar em Itália. E seduz-me que a Itália seja um país que valoriza a experiência. Dos jogadores e dos treinadores. Um treinador com cinquenta, sessenta anos, em Itália, é um sábio. Em Portugal, dos doutores e dos professores de educação física, um treinador de cinquenta, sessenta anos é um reformado. Tendo a possibilidade de treinar em Itália, gostava de experimentar os clubes que enchem de sonhos, qualquer treinador: Juventus, Inter de Milão, Roma e AC Milan. Mas há outros grandes clubes em Itália que aceitaria treinar. Com muito prazer e interesse.

Tanscrito no Jornal Record em Portugal

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