Entrevista Exclusiva Futebol Portugal com Manuel Cajuda. Ainda antes da vitória histórica conseguida pelo seu Al Sharjah frente ao Al Jazira (2-1), que permitiu a subida da sua turma ao terceiro lugar do grupo, o Futebol Portugal entrevistou, em exclusivo, o treinador luso. Recorde-se que esta vitória no terreno do Al Jazira, actual líder do campeonato dos Emiratos Árabes Unidos, numa partida a contar para a fase de grupos da Taça da Liga, é a primeira vitória do Al Sharjah no terreno do Al Jazira, em treze anos, o que reflecte bem toda a importância do resultado. A vitória foi muito festejada pelos seus adeptos, dado que existe uma rivalidade muito grande entre os adeptos dos dois clubes. São as respostas às nove perguntas por nós colocadas que aqui apresentamos de seguida:
FP – Como correu a noite de Natal nos Emirados Árabes Unidos ?–
MC-Foi uma noite tranquila, festiva e com a familia quase toda que se deslocou ao Dubai para estar comigo e com a minha mulher. Trocámos presentes, juntamos as pessoas e festejámos a data, como sempre, tentando, na medida do possível, tornar o ambiente o mais próximo possível da nossa tradoção e cultura. Mesmo o jantar, foi de acordo com essa tradição, não faltaram as rabanadas, as filhoses, o bacalhau cozido. Foi uma noite bem passada que nos ajudou a esquecer que vem aí um ano muito duro, especialmente para os portugueses. Estou longe, mas não desligo do meu país e do que se passa em Portugal, com uma situação política e social muito instável e que causa preocupação.
FP – Como vai o seu Al-Sharjah apesar de todas as dificuldades para formar a equipa ?
MC – O meu Sharjah vai da melhor forma possível, entre as possibilidades do clube e as necessidades do treinador. Há uma diferença muito grande entre as duas, porque, nesta altura, contava ter mais condições para lutar por títulos, neste clube, mas ainda não foi possível criá-las. Não vou desistir, rodeia-me um plantel escasso, semi-profissional e com muitas insuficiências, mas também sinto o carinho das pessoas, que são amigáveis e gostam de mim. E, por vezes, isso substitui o profissionalismo. A verdade é que no Sharjah ainda faltam muitas coisas para que se consiga reabilitar totalmente o clube, mas também já trabalhei em clubes, onde os dirigentes se julgam muito competentes e profissionais, mas onde eu nem tinha um ginásio para recuperar os jogadores. E isto passou-se há muito pouco tempo. Portanto, cá estou eu, a fazer o melhor que sei, acompanhado de uma equipa técnica cada vez mais vasta e cada vez mais preparada para fazer de mim um treinador cada vez melhor.
FP – Sonha regressar a Portugal na próxima temporada ?
MC – Honestamente, não sonho nem deixo de sonhar. Ao futebol português hei-de regressar, nem que seja para fazer o número mínimo de jogos de que preciso, para ser o treinador com mais jogos na 1ª divisão, de toda a história do futebol português. E tão cedo, não me tirarão esse recorde. Nos últimos anos, têm caido alguns, outros vão continuar a cair, mas este, creio que levará uns aninhos. Portanto, se Deus me der saúde e motivação, hei-de regressar ao futebol português. Quando é que isso vai acontecer? Não sei, embora pressinta que não será tão cedo.
FP – Estava esperançado que seria treinador do Sporting ?
MC – Nunca estive esperançado em ser treinador de nenhum clube, em especial. A minha esperança é da que reconheçam o meu valor como treinador e o meu carácter, como homem. Se esse reconhecimento, um dia, der para treinar um dos candidatos ao título, em Portugal, muito bem. Se não der, há mais vida para além desses três clubes. Em Portugal e no Mundo. Já passou demasiado tempo sobre isso, não me interessa falar muito sobre esse assunto.O que posso dizer, nesta altura, é que o Sporting é um grande clube e, neste momento, tem um grande treinador.
FP – Gostaria de contar com o Nuno Gomes no seu clube ?
MC – Não só gostaria de contratar o Nuno Gomes, como já falei com o presidente do meu clube. De início, ele assustou-se, porque o Nuno Gomes pode não jogar no Benfica, mas tem um grande prestígio internacional. Gostaria que fosse possível trazê-lo para o Dubai, nem que fosse, apenas, na próxima época. Vou continuar a discutir esse tema com o meu presidente, porque, a seguir ao susto, ele ficou entusiasmado com essa possibilidade. Talvez seja um jogador como o Nuno Gomes que este clube está a precisar, para criar um ambiente mais profissional e que nos ajude a restabelecer o prestígio do Al Sharjah. Se a tiver a mínima possibilidade de contratar o Nuno Gomes, fá-lo-ei, até porque ele pode ajudar-me muito e eu sinto que nós podemos ajudá-lo a ter um final de carreira bonito, elegante e maravilhoso. O Dubai é um sítio espectacular para se viver e acho que o Nuno é daqueles jogadores que merece um paraíso destes, para fechar a sua carreira. Pelo que ainda significa como jogador e pelo que sempre significará como homem.
FP – O que acha que correu mal com o Benfica esta temporada ?
MC – Os resultados. Esses é que não têm sido os mesmos. De resto, não gostaria de me alongar em grande comentários, porque sou treinador, não sou comentador. E não quero correr o risco de dizer algum disparate, porque há uma coisa que eu tenho como segura. Se alguma coisa falhou, foi porque o futebol não é uma ciência certa. Não estou a ver que o presidente do Benfica, ou o Jesus tenham errado de propósito. Reforço, que não sei o que se passou e seria de mau gosto, agora, atribuir responsabilidades ao treinador pelos maus resultados. O futebol é cruel, há poucos meses atrás, o Jesus era o melhor do Mundo. Agora, de acordo com o que se lê em alguma imprensa, escrito por alguns oportunistas de ocasião, já não presta. Acho que, nas duas situações, houve reacções muito exageradas.
FP – Alguns balneários são mesmo ninhos de víboras ?
MC – Os balneários são melhores ou piores conforme a capacidade do treinador liderar os processos e os jogadores. E, muitas vezes, o problema não são os jogadores, no balneário, são os dirigentes que actuam nas costas dos treinadores, reforçando algumas ambições internas de jogadores acomodados ou amuados. Para mim, como líder, digo sempre aos meus jogadores. Só terá problemas comigo quem não for profissional, quem não se adaptar ao meu estilo de liderança. Gosto de ser colegial nas decisões, mas não divido as responsabilidades. Quem souber aceitar isto, não tem problemas comigo. Mas um balneário é um amontoado de personalidades, de cabeças e de ambições. E, principalmente, as ambições podem estragar o ambiente.
FP – Paulo Bento é o homem certo na Selecção Nacional ?
MC – Mais do que a minha opinião, o que conta são os resultados. Em três jogos, três vitórias e uma selecção recuperada, no seu prestígio e nos seus objectivos. Como português, fico satisfeito, porque acredito que é possível a Portugal estar no Euro 2012.
FP – Como vai ser a sua passagem de ano ?
MC -Vai ser como foi a festa do Natal. Com a familia, com os amigos e, se possível, com muita saúde e alegria. E gostava de aproveitar a oportunidade para desejar a todos os portugueses, um Feliz e Próspero Ano Novo. Anuncia-se um ano difícil, mas espero que todos consigam enfrentá-lo, de uma forma digna e esperançosa.